PROFESSOR LÁ SILVA

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Blog do Maestro Lá Silva

O que a música sempre traz - e este é o fato mais decisivo - ao campo de visão do filósofo é a sua proximidade da existência Humana, uma característica específica que torna a música necessariamente objeto essencial para todos os que refletem sobre a realização humana.

O regente


No início da orquestra, ainda não existia a figura do regente. Seja pelo tamanho reduzido dos grupos orquestrais (normalmente não mais que 20 ou 30 músicos), seja pela menor complexidade rítmica, normalmente não era necessária a regência, havendo apenas um líder do grupo que orientasse os ensaios, ou mesmo que coordenasse a execução a partir de seu próprio instrumento musical enquanto participava do concerto.
Aponta-se o pioneirismo do compositor Lully (1632-1687), dirigente do famoso grupo dos 24 violinos do rei, na corte francesa de meados do século XVII, que costumava marcar o pulso batendo no chão com um pesado bastão. Além do inconveniente ruído que tal marcação ocasionava, esta prática levou à morte do compositor, devido a uma gangrena causada após ele ter atingido o próprio pé com o bastão durante a execução de uma obra.
Mas o fato é que somente pela segunda metade do século XIX a figura do regente tornou-se comum. O aumento do tamanho das orquestras e também da complexidade rítmica das obras executadas levou ao fato de que tornava-se praticamente impossível executar certas obras sem o trabalho do regente.
Este torna-se responsável pelas decisões de interpretação: andamento, caráter, instrumento ou voz a ser destacada em determinado trecho, etc. Torna-se responsável também pela coordenação dos ensaios, o que o obriga a conhecer previamente e muito bem a totalidade da obra, para garantir a perfeita junção das partes de cada músico. Finalmente, torna-se responsável pela marcação do tempo durante a execução em concerto, função a mais aparente mas talvez a menos importante da atividade de um maestro.
No século XX os maestros tornaram-se verdadeiros empresários, responsáveis por administrar grandes grupos orquestrais, o que inclui a difícil tarefa de harmonizar os egos dos componentes da orquestra, fazer a programação musical, estudar as obras, fazer a ligação mais visível com o público e muitas vezes representar os músicos perante o Estado (ou outro órgão mantenedor) e vice-versa.
Por tão grande acúmulo de responsabilidades, a profissão de maestro passou exigir uma formação muito complexa, ganhando um formidável status no século XX, a tal ponto que os maestros tornaram-se as principais estrelas da música erudita, suplantando a importância dos compositores. Isto coincide com a transformação das orquestras em grupos que executam obras de compositores mortos (às vezes já há séculos), e com o completo desconhecimento do público da música recém-composta, quase nunca executada pelas orquestras por vários fatores – entre eles o próprio ego dos maestros (que não querem dividir a glória com compositores vivos), bem como as maiores dificuldades técnicas de execução da música moderna e o possível gosto conservador do grande público – embora não seja possível verificar se são as orquestras que não tocam música contemporânea porque o público não gosta ou se é o público que não gosta de música contemporânea porque as orquestras não tocam!